Saturday, January 14, 2006

Na quinta-feira, vi minha psicóloga chorar




Um dos principais mistérios da vida é a morte. Ninguém sabe com certeza o que acontece quando a chama da vida se extingue de nossos corpos no momento do último suspiro. Para os cristãos, por exemplo, a alma repousa até o dia do Juízo Final, quando será decidido quem irá ascender aos céus e quem irá pagar por suas penas no Inferno. Por outro lado, existem religiões que pregam a reencarnação, afirmando que nossos espíritos retornam à vida em outros corpos, sendo que a vida é usada como uma espécie de escola. Quando já aprendemos o bastante, a alma não mais retorna ao nosso plano de existência. Bem, seja qual for a crença que esteja a certa, o fato é, quinta-feira, vi minha psicóloga chorar. O motivo foi a visita que o Ceifeiro fez a uma amiga dela enquanto dirigia em outro Estado. Não pedi detalhes para não ser indiscreto, mas, mesmo assim, não sei se agi certo. Fiquei diante dela, aparentemente impassível, pensando se deveria abraça-la ou não. Eu, que durante algumas sessões, não conseguira esconder minhas lágrimas pelas artimanhas da vida, não sabia o que fazer. É engraçado, mas sempre que alguém me fala que um parente ou amigo morreu, me lembro das palavras da minha ex-chefe.Ela dizia que não tinha cabimento dizer meus pêsames ou sinto muito quando se recebia uma notícia de morte pois, na verdade, não dava para fazer idéia da dor que a pessoa que sofreu a perda estava sentindo. Isso sem falar que, nessa situação, é muito difícil encontrar palavras de consolo. Até agora, me pergunto se agi bem. Se, por um acaso, ela não interpretou mal o modo como agi. No entanto, naquele dia, descobri uma coisa: psicólogas são seres humanos e, como tal, também choram.


Cristine


Cristine
Minha amada
Está sendo enterrada
É triste ver aquela garota
Faceira
Enclausurada
Num paletó de madeira
Descer sete palmos
Enquanto o padre
Lê os salmos

Mesmo sabendo que a morte
É um estado de transição
Não consigo esconder
A sensação
De vazio no peito
Nunca mais sentirei
O seu beijo
Nem o seu perfume de jasmim
Tudo porque a Morte
Tirou ela de mim.

1989

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