
Na escola, aprendemos que sentimentos são substantivos abstratos e, como tais, não podem ser contados. Eis que um dia, contrariando essa regra universal, minha namorada pediu para que eu quantificasse o amor que eu sentia por ela. Ora, esse pedido era muito complexo, pois qual unidade de medida eu usaria para realizar tal façanha? Tentei explicar para ela que sou poeta e que odeio lidar com números, ciências exatas e que, até hoje, não aprendi fazer logaritmos. Entretanto, ela insistiu com a dúvida e descobri, naquele momento, que teria sido muito útil ter sido amigo de Isaac Newton. Relembrando minhas parcas lembranças da Ciência dos Números, eu lhe disse que o meu amor por ela era proporcional ao bem-estar que eu sentia por estar com ela, elevado a décima potência dela ser uma ótima companhia, aliado a algumas propriedades distributivas que não convém mencionar aqui. Eu lhe disse também que, enquanto nossa soma fosse igual ou superior a dois, é sinal positivo de que nossa relação vale a pena. E se, algum dia, o resto for menor do que esse patamar, ou seja, dois, seria melhor repensar nossa relação. Fiquei em dúvida se ela tinha entendido essa equação amorosa, mas o beijo que ela deu em meus lábios mostrou-me a resposta.