Friday, January 07, 2011

Estaca Eterna


Camões dizia que “amor é ferida que dói e não se sente”. Não cabe a mim discutir a genialidade do Poeta-Mor da Língua Portuguesa, mas não sei onde esse tipo de amor se esconde. Acho que não é à toa que amor rima com dor e os espinhos da flor doem tanto na alma. Infelizmente, o amor acaba ferindo, mas não por culpa dele próprio, posto que é um sentimento que habita em nós. Os culpados acabam sendo nós, mulheres e homens, sem exceção.

Quando estamos sós, costumamos olhar

aquele casal de pombinhos na rua, se beijando, acariciando e torna-

se inevitável sentir um pouco de inveja. Além disso, mesmo aqueles que não são religiosos, costumam olhar para o céu e pensar “Ó Senhor, por que estou só”? Conseqüentemente, o número de casais flagrados em situação amorosa aumenta no decorrer do dia. Ao dormir, a sensação de solidão é tão grande que é preciso agarrar-se a um travesseiro, uma boneca para poder dormir melhor.

Algumas estações depois, algo acontece, e a pessoa solitária encontra alguém. Para sua surpresa, a troca de experiência, de palavras, é fantástica e aparentemente, por algum período, tem-se a impressão de ter encontrado a pessoa com quem se casaria e o comercial de margarina parece que vai se tornar real. Apenas parece.


Depois de algum tempo, começam a surgir brigas, ciúmes inconseqüentes e, deitado na cama com seu amor, você percebe que era melhor estar com uma boneca. Ela não roncava, não brigava, não reclamava da sua roupa, maquiagem... Você se lembra daqueles casais que vislumbrava quando estava solteira e se pergunta como fingiam tão bem. E seus amigos ainda dizem que vocês formam um casal perfeito. Será que não percebem a encenação?

Quando ocorre a separação, a Estaca volta a ser colocada no Coração que sangra por estar só. A Estaca só é retirada com o encontro de outro companheiro para depois ser espetada quando ele se vai. E cada espetada dói. A busca pelo amor é eterna, mas a vida não.

Estaca Eterna

Dói

como há

muito

não sentia.


Camuflada?

Surgiste

de auto-agressão

não física

mas que sangra

meu coração,

em vão,

mas fere.


A tristeza,

vil companheira,

é plena em

meu peito

chagado.

O martelo

não cessa.

O sangue

é abstrato.


Ai de mim!

Eu mesmo

me imolei

com Estaca Eterna.

E esse martírio

não cessa.

10.02.09



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